Entrevista Airto Maciano


Primeira coisa a ser explicada nessa postagem é que tivemos problemas técnicos com  o equipamento de gravação e tivemos que fazer em três etapas e, por falta de recursos para substituir o tal equipamento, provavelmente se repita nas outras entrevistas.

Henrique: No processo criativo dos espetáculos, de um modo geral, desde o inicio do Bagagem até hoje em dia, gostaria de saber qual a sua principal função na produção e nos processos criativos?


Airton: A minha parte na criação no passado, antes da parceria com Leda e com Eudes, eu era responsável pela administração do Bagagem enquanto associação e com uma pequena parte da confecção de material e de criação, ficando a parte de criação mais com Marco. Com a saída do Marco, aí eu tive que assumir toda a estrutura do Bagagem e mais a frente, a Leda e o Eudes encorporaram ao Bagagem, e isso me facilitou a vida porque eu fiquei apenas com a parte de criação de bonecos, a Leda com a parte administrativa no tocante concepção de projetos "pra" viabilizar, economicamente o grupo e o Eudes com a parte administrativa em geral mais a parte de apresentação junto comigo mais a criação de bonecos, né?  Mas, assim, o papel nosso dentro da estrutura do  Bagagem é um papel de parceria, todo mundo tem que fazer tudo, né, não tem jeito de "eu vou ficar exclusivamente..." não não, "eu fico com essa parte, porque é mais facil pra mim" mas a Leda precisou de ajuda, tô lá, eu precisei de ajuda o Eudes tá aqui também, a gente não tem funções dentro da estrutura de manutenção, o que a gente tem é a ideia de viabilizar projetos "pra" que nos possamos nos sustentar economicamente com teatro de bonecos e suas vertentes, essa é a nossa maior proposta. E assim, dentro dessa situação acomodada, não acomodada de ser comoda, onde todo mundo acabou tendo uma função, eu fiquei com a parte da criação de bonecos e uma parte de direção já que eu carrego a questão da visão final do boneco, eu consigo, quando to criando um boneco, saber como que ele vai ser, é muito mais facil "pra" mim... Eu pensei num boneco, eu já consigo ver ele finalizado. Já "pra" Eudes e "pra" Leda é mais complicado porque eles acabaram ficando com a parte administração, mas quando vai pro palco o Eudes tem a mesma concepção cenica que eu, a gente já começa a cena pensando como ela vai ser resolvida, a Leda a mesma coisa, porque, nessa engenharia toda a Leda acabou sendo nossa dramaturga.

Muita coisa se perdeu por uma questão técnica, a gente conversou bastante sobre a questão das funções de cada um e como que funciona a criação de bonecos, o artista falou que a concepção do boneco vem por muitos lugares ao mesmo tempo, sendo o texto apenas mais um vetor de criação.
Ele fala um pouco da sua experiencia e andaças pelo mundo da confecção de bonecos e só conseguimos retomar a gravação quando ele já estava estava falando de suas descobertas de como produzir um boneco bom para luz ou luz/câmera mas que no ao vivo e próximo o boneco fica "feio"

Airton: O pessoal que fez um boneco, quando eu vi o boneco, pensei, que boneco lindo, maravilhoso. Quando fui ver o boneco, pensei, que porcaria! Eu entendi a questão da absorção de luz pela espuma e pela leitura da lente com a espuma, deixar o boneco perfeito, quantas coisas você vê no carnavale quando chega perto é feio, é mal feito.
Henrique: a gente diz que superou a questão do boneco, mas você diz também que faz parte da sua criação tanto no boneco, quanto no texto, a questão da empanada, a questão do cenário que o boneco habita né? Você gostaria de falar mais um pouco sobre isso? Como funciona essa sua criação?
Airton: Ah, essa parte da cenografia, eu gosto, porque ela resolve um problema que é a manipulação do boneco e as questões dos sinais, porque, o boneco é uma escultura. Boneco não tem sentimentos, automaticamente nao tem expressão, a única coisa é a escultura, o que você tem que passar é a com a manipulação, a voz, que vc quer que atinja aquela determinada emoção e é legal a composição de cenário para esses elementos porque causa na platéia uma construção maior, porque o boneco solto é interessante, mas também tem que ter o contexto de luz e tudo mais que é muito bacana também, eu já assisti muitos espetáculos... O Giramundo mesmo, assisti aquele que eles trabalham com cortinas de luz, é muito bacana, quer dizer, trabalhava né, não sei como esta depois que o Apocalipse ter falecido. O pessoal de São Paulo, esqueci o nome do grupo, do (?) Meteoro, eles tão trabalham muito com o boneco de manipulação direta, mas eles não usam cenários, eu acho legal. A construção do cenário para o boneco é muito importante para mim, porque o boneco nu ele fica empobrecido, a não ser que você tenha vários elementos e a proposta seja aquela, mas ele sozinho... As empanadas de mamulengo são altamente enfeitadas e isso contrasta porque é o seguinte, você tiraria a atenção do boneco com a empanada, mas ela chama a atenção pra quele centro e la dentro da caixa cênica do boneco é preta, pra que o boneco tenha seu destaque e eu acho legal essas coisas que criam essa distorção porque eu gosto de ver... Se quer chamar a atenção você coloca um cenário carregado, se o ator for fraco ele some no cenário.
Henrique: Você falou dessa questão de iluminação, mas o bagagem é um pouco mais de teatro que ocorre na rua, como funciona essa questão da criação do boneco, do cenário...?
Airton: A capacidade da gente de reagir, essa insistência e persistência nossa é o que nos faz estar aqui hoje.
Henrique: é o que dá o fôlego né?
Airton: Já era pra ter desistido, mas nunca pensei em desistir. Sempre gostei de tatuar, ficar fazendo as coisas, é muito bom, é muito divertido. Rejuvenesce a gente, rejuvenesce a mente, você se permite criar o tempo todo, o cérebro não pára, tem que ser criativo, você tem que resolver problemas que você não esperava. Agora mesmo, estou tentando fazer uns bonecos lá, já fiz 20 cabeças e não acertei nenhuma ainda. Ontem eu trabalhei no domingo até 19:00 da noite, larguei, fiquei com raiva, agora mesmo fui lá fazer, larguei com raiva, e aí resultado: vou voltar para a primeira!
Igual adolescente né, não quero essa roupa, não quero essa, não quero essa, quero aquela lá. A primeira que pegou decide usar.
Henrique: o prêmio Sesc ele serve pra te motivar ou te fazer continuar? Porque assim, motivar é uma coisa, agora fazer mais e...
Airton: Não me motiva a fazer mais, me dá vaidade porque eu fiz, então é ele que é... Uma vez um amigo meu disse: Esses caras vão estourar, vão pra fora. Não, Não, é simplesmente só uma peça, pra mim era somente isso, era consequência de um trabalho que combinou naquela cena, pronto, não era mais nada pra mim, apenas uma cena, nada de estourar e...
Henrique: Então seu objetivo não era estourar, era fazer...






Mais uma vez perdemos muito do que o entrevistado tinha a dizer por problemas técnicos, mas ele falou muito sobre a proposta do bagagem ser voltado para rua e que hoje eles possuem estrutura para levar suporte de luz e som (um caminhão com palco móvel) e que é fácil adaptar para teatro já que eles quem concebem tudo

Airton: Não, não, é que na visão dele a gente ia estourar e na minha não, na minha era só consequência do meu trabalho, se a gente estourar, coisa que eu acho complicado isso, porque na verdade a gente tem que pensar tranquilo e contínuo, manter a produção e realizar nosso trabalho. Os investimentos e os incentivos governamentais e outras coisas nos favorecem, eu tenho a parte de confecção da parte de bonecos, a gente acha que é simples no desejo, no desejo de continuar e por isso a gente precisa dessa questão financeira, se não a gente dá o breck, ja parei de trabalhar muitas vezes e não é isso que fará com que eu acabe, eu sou pago, porque a gente faz um parada, depois faz uma pausa pra ver onde errou pra retomar o trabalho.
Henrique: É isso, muito obrigado




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